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Museu Casa Benjamin Constant

Benjamin Constant

Benjamin Constant, aos cerca de 30 anos de idade
Benjamin Constant, aos cerca de 30 anos de idade

Benjamin Constant Botelho de Magalhães, professor, educador, positivista, engenheiro, matemático, ministro de Estado, militar, Fundador da República. Nosso patrono cultivou todas essas aptidões e recebeu esses cargos e títulos ao longo de sua relevante vida. 

Benjamin Constant nasceu em Niterói, em 9 de fevereiro de 1837. Era filho de Leopoldo Henrique Botelho de Magalhães e Bernardina Joaquina da Silva Botelho. Seu pai, também professor e militar, nascera em Portugal e lutara a favor do Brasil nas Guerras de Independência, que precederam nossa emancipação política. 

Desde a juventude, Benjamin teve um contato muito próximo com a educação, a partir da experiência de seu pai, que possuía uma pequena escola de primeiras letras, em Niterói, onde lecionava latim e gramática portuguesa. Mudando-se para Macaé (RJ) em 1837 e, depois, para Magé (RJ) em 1838, Leopoldo Henrique mantinha suas atividades educacionais nas quais seu filho seria, finalmente, alfabetizado. 

Leopoldo marcou indelevelmente a vida do jovem Benjamin, não só pelo exemplo professoral, mas também pela figura amorosa que representava. A devoção de Benjamin ao pai era tamanha que, com a morte inesperada de Leopoldo, escreveu um belo e lamentoso poema em que chamou a perda de “trovão do infortúnio”. Seguiu-se ao trauma um período de tristeza e depressão, tanto para Benjamin quanto para sua mãe, que sofreu um colapso emocional do qual nunca se recuperaria. 

Benjamin Constant em 1874

Os biógrafos de Benjamin registram que o jovem tentara suicídio três dias após a morte de seu genitor, atirando-se num rio. Fora retirado das águas por uma mulher escravizada, que por lá lavava roupas. Era 18 de outubro de 1849, e Benjamin decidira que, doravante, seria esta a data de comemoração do seu aniversário, posto que havia, de algum modo, renascido. 

O nome de Benjamin também é fruto da atenção que Leopoldo dedicava à identidade dos filhos. Com ele, homenageava o filósofo e jurista constitucionalista francês Benjamin Constant de Rebeque. Às duas irmãs de Benjamin, Leopoldo deu o nome de Constança, repetindo a reverência ao autor francês. 

Em 1852, Benjamin Constant solicitou matrícula na Escola Militar do Rio de Janeiro e foi admitido. Como os discentes recebiam um soldo, poderia ajudar no sustento de sua mãe e irmãos, que passavam por dificuldades. Assumiu, então, a direção da família, aos 15 anos de idade, e iniciava-se a carreira militar do nosso patrono.

Benjamin percorreu o caminho das ciências, dentro do exército, e formou-se bacharel engenheiro. O ambiente cientificista então predominante aguçou seu desejo por conhecimentos matemáticos, até que travou contato com as doutrinas filosóficas e científicas de Augusto Comte, matemático francês fundador do Positivismo. 

O Positivismo continha, além da ênfase nas ciências, um conjunto de diretrizes éticas e morais que organizaram a conduta de Benjamin Constant. Em 1876, fundou, com alguns amigos, a primeira associação positivista no Brasil, batizada oficialmente de Sociedade Positivista do Rio de Janeiro em 1878. Com a crescente institucionalização da organização e com laços cada vez mais fortes com o movimento positivista francês, a Sociedade se tornou Centro Positivista, transformando-se, enfim, em Igreja Positivista do Brasil, em consonância com a última fase filosófica de Comte, em que este concebeu a Religião da Humanidade. 

Benjamin Constant enfrentou vários percalços na sua trajetória profissional. Tinha aptidão para lecionar, e o fez em várias escolas. Quando prestava concursos públicos para o cargo de professor, saía-se muito bem, mas perdia a posição para candidatos com maior influência política, mesmo passando em primeiro lugar. Nosso professor cultivava, assim, horror ao funcionamento da sociedade imperial, no tocante à transparência e à conduta de alguns agentes públicos. 

Em 1862, é admitido como professor do Imperial Instituto dos Meninos Cegos. A escola para pessoas com deficiência visual havia sido fundada por D. Pedro II e era dirigida, então, por Cláudio Luís da Costa. Lá, Benjamim viria a conhecer a filha do diretor, Maria Joaquina, que viria a se tornar sua esposa. Benjamin produziu material em braille para o estudo da matemática, transformando o currículo dos alunos e, em boa medida, proporcionando inclusão destes ao ainda muito restrito mundo das ciências. Assumiu a direção do Instituto pouco tempo depois, tendo se tornado o principal diretor da instituição que, desde 1891, leva seu nome. 

Benjamin Constant participou da Guerra do Paraguai, compondo o corpo de engenheiros, dos quais era o capitão. Esteve lá a contragosto, pois cultivava o pacifismo e defendia a amizade entre os povos, posição baseada no Positivismo que seguia. Não obstante, cumpriu seus deveres e obteve dispensa por doença, já que contraíra malária, mal que lhe deixaria sérias sequelas hepáticas pelas quais viria a falecer, muitos anos depois. 

Sua defesa do republicanismo adveio de suas insatisfações com o funcionamento da política imperial. O historiador Renato Lemos interpreta a posição de Benjamin como “amargamente cética e progressivamente reformista” (Lemos, 1999, p. 257). O clima de insatisfação com o tratamento dado pelo governo imperial ao exército, sobretudo após a Guerra do Paraguai, direcionou Benjamin e seu irmão, Marciano, para a radicalização, terreno no qual foram ganhando adeptos, entusiastas e discípulos. 

Mas não foi somente o descontentamento militar que direcionava nosso patrono. Ele esbarrava na inércia política vigente, que o impedia de concretizar algumas importantes ações sociais, tais como a extinção do sistema escravista, a incorporação dos cegos à vida produtiva, reforma e ampliação do ensino normal, e a criação de associações de seguros para o socorro das classes pobres. Somam-se a isso as outras crises que o Império enfrentava, no âmbito político, religioso e econômico, e um grupo de homens liderados intelectualmente por Benjamin Constant construiu o ambiente propício ao 15 de novembro. 

Esse apoiadores eram, em sua maioria, alunos ou ex-alunos de Benjamin, jovens oficiais que declaravam publicamente que iriam seguir o professor naquilo que ele decidisse como o melhor para o Brasil. Tais manifestações ficaram conhecidas como Pactos de Sangue, documentos assinados por inúmeros defensores da instauração da República. Dois dias após a proclamação do novo regime, os alunos da Escola Militar fazem referência ao “sol da Liberdade” e, em seguida, afirmam: “Flores, só flores juncam o solo puro por onde, vitorioso, haveis passado, conquistador sem rival, conduzindo um povo desgraçado à terra da promissão”. Tal era o clima entre seus seguidores. 

Já no Governo Provisório da República, Benjamin assumiria o cargo de Ministro da Guerra e, depois, da Instrução Pública, o que quer dizer que foi o primeiro ministro da educação do Brasil republicano. Com muito esforço elaborou uma reforma do ensino baseada em suas crenças bem sedimentadas sobre as ciências, tendo afirmado que “o engrandecimento da República repousa, essencialmente, sobre a educação” (Magalhães, 1890). 

Em consequência de complicações hepáticas advindas da malária contraída na Guerra do Paraguai, Benjamin Constant faleceu em 22 de janeiro de 1891. Por tudo o que defendeu e conquistou em vida, a Assembleia Constituinte aprovou salvas e moções em homenagem ao professor. Um dos deputados, Demétrio Ribeiro, lançou uma proposta audaciosa: que a casa de Benjamin fosse transformada em um “museu de documentos de toda sorte” em memória do “ínclito cidadão”. Registrou-se, assim, a primeira iniciativa museológica da era republicana, o que nos leva a chamar sua residência, carinhosamente, de “a primeira casa da República”. 

A Constituição de 1891 determinou a compra da casa onde viveu e faleceu Benjamin Constant, mandou instalar uma placa memorativa aos seus feitos, além de ter-lhe outorgado o título de Fundador da República.